quinta-feira, 1 de abril de 2010

A VIDA DE CHICO XAVIER


A VIDA DE CHICO XAVIER

IRMANDADE ESPÍRITA DE UMBANDA SÃO JORGE

Palestra em 31.03.2010 - Por: Marcelo Caparroz

HOMENAGEM A CHICO XAVIER
02.04.1910 - 30.06.2002 (92 anos de idade)

(Centenário de seu nascimento)




Francisco Cândido Xavier, nasceu no dia 2 de abril de 1910, em Pedro Leopoldo - MG, uma cidade pequena, tranqüila, de tradição bandeirante, sem atrações, vida pacata e comércio rudimentar, tendo apenas a agricultura como a base mais importante de subsistência. Filho de João Cândido Xavier e de Maria João de Deus, seu nome de batismo é Francisco de Paula Cândido, uma homenagem ao Santo do dia. (Segundo consta, o genitor de Chico Xavier pediu a um amigo para registrar o nascimento do filho Chico com o nome de Francisco Cândido Xavier. Esse amigo era muito católico e por conta própria, acrescentou o nome "de Paula" ao nome de Francisco, procurando homenagear o santo católico São Francisco de Paula, ficando Chico Xavier registrado com o nome de Francisco de Paula Cândido, fato que ele e seus familiares desconheciam.)

A primeira manifestação mediúnica de Chico Xavier ocorreu em 1914, quando ele possuía 4 anos de idade. Naquela ocasião, João Candido comentava com a mulher o aborto ocorrido com uma vizinha e usava o episódio para criticar a moça. Chico interrompeu o diálogo com palavras totalmente inesperadas para sua idade e meio social: "O senhor está desinformado sobre o assunto. O que houve foi um problema de nidação inadequada do ovo, de modo que a criança adquiriu posição ectópica. De tão atônico que ficou, João Candido pensou que seu filho fora trocado. Perguntado sobre o que significava "nidação" e "ectópico", Chico respondeu que não sabia - só repetira palavras que lhe haviam sido ditadas por uma voz".

Em 1915, quando tinha 5 anos de idade, Maria João de Deus, mãe de Chico, morre de problemas cardíacos. Chico é levado para a casa dos padrinhos Rita de Cássia e José Felizardo Sobrinho, onde sua madrinha bate em Chico constantemente, além de lhe impor outros constrangimentos (Chico contava a seu genitor e a seus padrinhos as visões espirituais que tinha... por conta disso, era chamado de louco. Rita de Cássia reagia às "alucinações" de Chico, com golpes de marmelo e entre uma surra e outra, enterrava garfos na barriga de Chico Xavier e berrava: "Esse moleque tem o diabo no corpo". Após as confissões, preces e penitências, Chico via o espírito de sua mãe desencarnada, a qual pedia paciência e que ele não discutisse com os padrinhos, bem como, evitasse ficar falando das visões que tinha. Chico era levado para se confessar ao Padre Sebastião Scarzello e para espantar o "diabo" e "pagar os pecados", Chico seguia à risca as receitas paroquiais. Chegou a desfilar em procissão com uma pedra de 15 quilos na cabeça e repetir mil vezes seguidas a ave-maria. Rezava e contava. Não foi fácil. Um espírito desocupado fazia caras e bocas para atrapalhar seus cálculos. Na igreja, Chico via assombrações flutuarem sobre os bancos e beijarem as estátuas de "santos".)

Em 1917, quando Chico contava com 7 anos de idade, seu genitor João Cândido Xavier, casa-se em segundas núpcias com Cidália Batista. A Madrasta faz questão de reunir e educar os nove filhos do matrimônio anterior do marido. Chico é muito bem tratado pela madrasta, a qual ouvia as visões contadas por Chico, contudo, Cidália não inquietava-se, embora não soubesse o que exatamente ocorria com o enteado.

Em 1919 Chico começa seus estudos, no Grupo Escolar São José.

Em 1922, quando Chico Xavier possuía 12 anos de idade, comemorava-se o centésimo aniversário da independência do Brasil e os estudantes receberam a tarefa de preparar uma redação referente à data, num concurso promovido pela Secretaria da Educação de Minas Gerais. No momento de iniciar o texto, Chico reparou que havia um homem alto ao seu lado, orientando-o a escrever o que ditasse. Assustado, ele foi contar o episódio à professora. Ela lhe perguntou o que o ser invisível queria que ele escrevesse e o menino respondeu: "O Brasil, descoberto por Pedro Álvares Cabral, pode ser comparado ao mais precioso diamante do mundo, que logo passou a ser engastado na Coroa portuguesa...", Interrompendo-o, a professora o acalmou: "O que você ouviu veio da sua própria cabeça". Entre milhares de concorrentes, a redação do menino pobre que ouvia vozes conquistou uma menção honrosa e, com isso, iniciou um debate na escola. Alguns afirmavam que o menino havia copiado as palavras de algum livro; outros atribuíam o texto ao próprio Chico, ou ao seu amigo misterioso. Para esclarecer a dúvida, alguém sugeriu que Chico e/ou seu inspirador escrevessem uma redação sobre um assunto definido ali. Quando o menino dirigiu-se ao quadro negro, uma aluna, em tom de deboche, propôs o tema: areia. A resposta na lousa certamente surpreendeu os céticos: "Meus filhos, ninguém escarneça da Criação. O grão de areia é quase nada, mais parece estrela pequena refletindo o sol de Deus". Depois disso, a professora proibiu que se voltasse a falar sobre pessoas invisíveis na sala de aula.

Em 1927, quando Chico Xavier tinha 17 anos de idade, a doença de uma irmã, Maria Xavier, aproxima Chico do espiritismo. Ele acompanha o bem sucedido tratamento e decide estudar a doutrina. Funda com outras pessoas, o Centro Espírita Luiz Gonzaga, o primeiro de Pedro Leopoldo. Numa das sessões iniciais, psicografa seu primeiro texto, com 17 páginas, assinado por "um espírito amigo".

Chico Xavier sempre dizia (transcrição das próprias palavras dele): "Eu me sinto feliz de ser obstinado médium. Eu gosto de ser médium, gosto dessa palavra. Quero morrer médium. É tudo o que eu sempre quis ser".

Em 1931, com 21 anos de idade, Chico Xavier conhece o espírito Emmanuel, que se tornaria seu guia.
(Quando Chico fazia sua prece e conversava com Deus, foi interrompido pela visita de uma cruz luminosa. Franziu os olhos e percebeu, entre os raios, a poucos metros, a figura de um senhor imponente, vestido com túnica típica de sacerdotes. O recém chegado foi direto ao assunto:
- Está mesmo disposto a trabalhar na mediunidade? (perguntou Emmanuel).
- Sim, se os bons espíritos não me abandonarem, respondeu Chico.
- Você não será desamparado, mas para isso é preciso que trabalhe, estude e se esforce no bem, disse Emmanuel.
- O senhor acha que estou em condições de aceitar o compromisso? (perguntou Chico)
- Perfeitamente, desde que respeite os três pontos básicos para o serviço (disse Emmanuel).
Diante do silêncio do desconhecido, Chico perguntou quais eram os três pontos básicos, tendo Emmanuel respondido: Disciplina, Disciplina e Disciplina.)

Em 1932, com 22 anos de idade, Chico Xavier lança sua primeira obra psicografada, Parnaso Além Túmulo, um coletânea de 59 poemas assinados por 14 nomes famosos da literatura brasileira, como Castro Alves, Casimiro de Abreu e Augusto dos Anjos. Com o passar do tempo, essa obra ganhou mais 203 poesias e, em sua versão final, tinha 56 autores espirituais.

Em 1935, com 25 anos de idade, Chico Xavier passa a trabalhar como escrevente datilógrafo para o Ministério da Agricultura, na Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo. Nesta ocasião, descobre que seu nome de batismo é Francisco de Paula Cândido e não Francisco Cândido Xavier. Como não havia tempo de mudar o nome e ingressar no serviço público, seu nome permaneceu assim até após aposentar-se em l963, quando em 1966, Chico consegue mudar o registro do seu nome para Francisco Cândido Xavier, razão pela qual não há registro de funcionário do Ministério da Agricultura com este nome, mas sim com o nome de Francisco de Paula Cândido.

Em 1967, com 57 anos de idade, Chico Xavier psicografa o centésimo livro de título Encontro marcado, assinado por Emmanuel. Contém uma coletânea de conselhos bastante úteis, entre eles o seguinte: "A pedra que acidentalmente nos fira será provavelmente a peça que sustentará a segurança da construção". Neste mesmo ano, comemorava o 40º aniversário do início de suas atividades mediúnicas e foi homenageado com o título de Cidadão de Pedro Leopoldo.

Chico Xavier não apenas psicografava como também realizava fenômenos de efeitos físicos. Certa vez perfumou a água que os assistentes traziam. De outra vez, o ar. Contam algumas testemunhas que Chico, certa ocasião foi rezar ao lado da cama de uma mulher muito doente e sem esperanças de vida. Enquanto o médium rezava, pétalas de rosas começaram a cair do teto sobre a doente. A mulher veio a desencarnar sem sofrimento, durante aquela madrugada. Após algum tempo desse acontecimento, Emmanuel intercedeu junto a Chico Xavier recomendando a suspensão dos trabalhos de efeitos físicos.

Em 1972, já com 62 anos de idade, Chico Xavier é entrevistado ao vivo, por duas vezes, no programa Pinga Fogo, da extinta TV Tupi. O Sucesso é estrondoso. Foi o primeiro a afirmar que havia água na Lua, colocação que a ciência passou a aceitar somente na década de 90 e confirmou a existência de água na Lua somente em novembro de 2009.

Em 1973, com 63 anos de idade, Chico Xavier já tinha psicografado e lançado 116 livros e vendido mais de 4 milhões de exemplares.

Em 1980, Chico Xavier é indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 1981. Concorreu com Papa João Paulo II, mas quem recebeu o prêmio foi o "Escritório do Alto Comissariado da ONU - Organização das Nações Unidas para refugiados". Dez anos após, Chico comentou: "Não merecia ser Prêmio Nobel da Paz porque sou um homem do povão.

Em 2 de abril de 1993, ao completar 83 anos de idade, Chico Xavier avaliou: "Minha missão está no fim. Mas estou feliz de tê-la cumprido da melhor forma possível. - E se divertiu: - Se eu tivesse nascido em 1º de abril, diriam que eu era uma grande mentira. Até o mês de julho de 1993, Chico Xavier já havia psicografado 379 livros, dos quais, até fevereiro de 1994, 375 já haviam sido publicados.

Em 1995, possuindo 85 anos de idade, um enfisema pulmonar prende o médium a uma cadeira de rodas e reduz seu peso para 35 quilos.

Em 1999, com 89 anos de idade, é lançada a última obra psicografada de Chico Xavier, sob o título Escada de Luz.

No ano de 2000, com 90 anos de idade, Chico Xavier é eleito o Mineiro do Século em votação promovida pela Rede Globo Minas.

Em 30 de junho de 2002, com 92 anos de idade, no mesmo dia em que a seleção brasileira de futebol conquistou o seu quinto título mundial, Chico Xavier desencarna em sua casa simples, dormindo. (Naquela data, Chico Xavier não quis acompanhar o jogo, mas interessou-se em saber o resultado final. A conquista do pentacampeonato mundial pareceu estimular nele um contentamento especial, perceptível naquele dia quando ele agradecia a todos os que o encontraram. Ao anoitecer, ele jantou, pediu café quente e em seguida se retirou para o quarto de dormir. Deitou-se às 19h20, como fazia diariamente, e, dez minutos depois, seu coração parou de bater. Uma tranqüila morte por parada cardíaca, como atestou o Dr. Eurípedes Tahan: "Ele foi sem sofrimento nem dor"). Chico Xavier já contava com 412 livros psicografados publicados, sendo que outras 39 publicações ocorreram após seu desencarne, somando 451 livros psicografados publicados. Nunca admitiu ser o autor de nenhuma dessas obras. Reproduzia apenas o que os espíritos lhe ditavam. Por esse motivo, não aceitava o dinheiro arrecadado com a venda de seus livros. Vendeu mais de 50 milhões de exemplares em português, com traduções em inglês, espanhol, japonês, esperanto, italiano, russo, romeno, mandarim, sueco e braile.

Em 2006, Chico Xavier é eleito o Maior Brasileiro da História em votação popular promovida por Época.

Quem foi então Francisco Cândido Xavier "Chico Xavier": Foi o maior fenômeno mediúnico de que temos conhecimento; foram 75 anos ininterruptos de trabalho ativo e consagração ao bem. Em sua trajetória de amor, psicografou 451 livros ditados por centenas de espíritos, com toda sua renda revertida para organizações espíritas e instituições filantrópicas. Cerca de 2 mil obras assistenciais foram fundadas ou mantidas graças ao apoio de Chico. Hospitais, creches, orfanatos, casas de saúde e asilos sobrevivem graças aos direitos autorais advindos dos seus livros. Mais de 25 milhões de exemplares vendidos, sendo estimado que esse número seja na verdade de 50 milhões de exemplares vendidos somente em português, gerando uma renda anual muito superior a 650 mil dólares, dos quais ele não viu sequer um centavo. Adentrava as madrugadas psicografando, atendia a todos pessoalmente, ignorando as dores físicas e as diversas patologias que o acometeram durante sua jornada terrestre. Calcula-se que, nos seus anos de atividade mediúnica, recebeu cerca de 20 mil mensagens de espíritos desencarnados, consolando o coração de milhares de famílias. Na área social, visitava doentes em hospitais diversos, ia a presídios orar e ofertar palavras de encorajamento aos presos. Percorria, pessoalmente, asilos, orfanatos e creches, deixando o seu testemunho de amor e a sua palavra de incentivo. No campo assistencial, visitava áreas carentes e os bairros da periferia da sua cidade, distribuindo alimentos, remédios e, acima de tudo, amor e carinho. Viveu na simplicidade, com o seu salário de datilógrafo aposentado. Exemplo de desapego, não aceitava presentes e nem dinheiro. Quando lhe ofertavam algo, ele educadamente recusava e dizia: "Ajude o primeiro necessitado que encontrar". Foi o maior exemplo de espírita verdadeiro. Foi um dos maiores exemplos de amor da história da humanidade. Este foi Francisco Cândido Xavier "Chico Xavier".


Biografia

Souto Maior, Marcel. As Vidas de Chico Xavier. 7º edição. São Paulo, editora Rocco.
Araia, Eduardo. Chico Xavier Uma Missão de Amor. 1º edição. São Paulo 2007, editora Claridade.
Gama, Ramiro. Lindos Casos de Chico Xavier. 20º edição. São Paulo 2006, editora LAKE.
Crônicas da Revista Época, número 615, março de 2010.
Revista Cristã do Espiritismo, ano X, números 70 e 76.